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Entrevista | Vereadora Cris Zanatta rompe obstáculos e defende maior participação política feminina

Por: Marcos Schettini
20/12/2021 17:05 - Atualizado em 20/12/2021 17:08
Divulgação

Dona de uma história política interessante no Extremo Oeste de Santa Catarina, a vereadora Cristiane Zanatta ganha visibilidade ao levantar a bandeira em defesa das mulheres em São Miguel do Oeste. Eleita para o Legislativo em 2012, presidiu a Câmara de Vereadores e depois teve seu mandato cassado, mas recuperou sua cadeira e então foi a primeira mulher a disputar a Prefeitura de São Miguel do Oeste, em 2016.

Convicta de seus desafios públicos, a professora aceitou a derrota eleitoral e foi amadurecer os traçados para retornar em 2020, quando tornou-se a terceira vereadora mais votada com 808 votos. Para ela, que concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Marcos Schettini, “uma vitória consagrada mostra a sua personalidade, força, garra, comprometimento em viver em prol da busca de uma sociedade mais justa, mais humana e menos desigual”. Ainda, Cris falou sobre o futuro do PSDB, Carlos Moisés, machismo estrutural e participação feminina na política. Confira:


Marcos Schettini: O PSDB vive uma divisão política depois das prévias que escolheu Doria como pré-candidato a presidente?

Cris Zanatta: O PSDB vive a democracia, escolheu seu candidato pelo voto. Cumpriu sua tradição histórica de levar os temas mais relevantes para discussão com todos os seus participantes. Nunca houve prévias de partido como a do PSDB. No mesmo dia do resultado os candidatos se colocaram unidos. O PSDB é um partido que convive muito bem com a pluralidade de ideias.


Schettini: O governador Doria ganha a adesão do partido em SC?

Cris Zanatta: Ele é o pré-candidato do partido. Neste sentido, é de esperar que haja a adesão dos respectivos Estados apoiando a candidatura.


Schettini: Qual é seu sentimento de mulher em relação às disputas políticas?

Cris Zanatta: Meu sentimento é de gratidão e responsabilidade pela possibilidade de estar onde estou hoje. E o meu comprometimento é de realizar um trabalho de excelência para toda a nossa São Miguel do Oeste. Incentivando um movimento de construção coletiva onde as mulheres que estão na política hoje vão abrindo espaço para mais mulheres participar. As disputas políticas se correlacionam num ambiente de poder, inicialmente permeado por uma disputa natural e o universo masculino teve a predominância, historicamente os espaços de poder foram feitos e reservados para os homens. Acredito que vivo esse trânsito, desconstruindo preconceitos, construindo espaços e caminhos, vencendo com os nossos posicionamentos, exemplos e atitudes.

Schettini: A participação feminina não é mais obrigação que uma luta?

Cris Zanatta: Prefiro acreditar que as mulheres que estão na política estão exercendo um direito legítimo. As mulheres do passado, ou seja, as que nos antecederam, lutaram pelo direito ao voto, pelo direito de ser votada. Acredito que o papel dessa geração é ocupar os espaços. É de grande valia compreender que se nós tivermos equidade dentro da política, isso não é bom só para as mulheres, isso é bom para a sociedade como um todo, é um benefício social.


Schettini: Você já disputou a eleição em SMO como candidata a prefeita. Por que não disputou novamente?

Cris Zanatta: Sim, disputei em 2016. Fui a primeira mulher a concorrer o cargo de prefeita em São Miguel do Oeste e me orgulho muito pela coragem, determinação e pela minha trajetória política que construí. Foi uma experiência ímpar de ter todos contra uma mulher. Mas sobrevivi, aprendi a ganhar perdendo e eu cresci. Nesse meio tempo fiquei afastada da política, por opção, durante quatro anos. Mas no meu íntimo algo me incomodava e que me dizia para terminar o que havia iniciado. Foi quando ouvi meu coração e tomei a decisão de concorrer a uma vaga no Legislativo. Também entendi que havia um trabalho relevante a ser desenvolvido no Legislativo municipal.


Schettini: O machismo começa na aceitação das mulheres ou se aprende em casa?

Cris Zanatta: O machismo é uma herança cultural da nossa sociedade patriarcal. Nenhuma mulher, em sã consciência, aceita o machismo. É um traço cultural enraizado nas famílias e que é levado para os espaços de convivência coletiva. É inegável a maior visibilidade do debate sobre violência na sociedade. No entanto, esse debate, ainda está muito centrado na violência aberta, aquela que é reconhecida imediatamente pela sociedade. Porém, temos um desafio ainda maior, precisamos enfrentar a violência estrutural ou sistêmica, vinculada às formas de dominação e opressão vigentes. A violência estrutural é camuflada por sua conformidade às regras; é naturalizada por sua presença permanente na tessitura das relações sociais; é invisibilizada porque, ao contrário da violência aberta, não aparece como uma ruptura da normalidade.

Neste caso, significa assumir que a violência decorre de relações desiguais e hierárquicas de poder entre homens e mulheres na sociedade social. Só nós, mulheres, é que sabemos a dor que é viver em um mundo onde o preconceito mata milhares de nós, todos os anos, nos exclui e tenta nos aprisionar em jaulas de anulação e submissão. É necessário combater toda e qualquer violência contra a mulher, baseada no gênero, que tem como resultado o dano físico, sexual, psicológico, incluindo ameaças, coerção e privação arbitrária da liberdade, seja na vida pública seja na vida privada. É preciso criar mecanismos culturais e sociais. É preciso avançar na desconstrução das relações desiguais do poder patriarcal.

Para isso, é fundamental a construção da autonomia das mulheres. É preciso criar condições para que as mulheres rompam com o ciclo da violência, contribuindo para que as mulheres ao seu redor também o façam. É preciso fortalecer a ação coletiva e garantir recursos e políticas adequadas para o atendimento, acolhimento e proteção às mulheres vítimas; urge com que os homens discutam, escutem nosso pleito e sejam também atores para a interrupção desse ciclo que muito se mantém pela conivência social masculina. Enfim, é preciso que o tema seja discutido amplamente como uma questão democrática de respeito e dignidade.

Schettini: Como professora, qual a avaliação do chamado homeschooling?

Cris Zanatta: O processo de ensino aprendizagem é muito mais amplo do que a mera transmissão de conteúdos específicos como matemática, geografia, história ou literatura. O espaço educacional é um ambiente de socialização e de harmonização das diferenças individuais. Neste sentido, é difícil imaginar que um processo de “escola em casa” consiga suprir todos esses aspectos. Eu respeito o direito individual de escolha das famílias, mas não acredito que haja muitas famílias em condições de ensinar conteúdos específicos para seus filhos em casa.


Schettini: Qual sua avaliação do governo Carlos Moisés?

Cris Zanatta: O governo Moisés enfrentou toda sorte de sobressaltos no início quando houve até o seu afastamento. Hoje ele respira pela compreensão, entendimento e pelo voto dos deputados Valdir Cobalchini (MDB), Fabiano da Luz (PT), Zé Milton Scheffer (Progressistas) e Marcos Vieira (PSDB) que garantiram sua permanência como governador com o compromisso de estar presente em todos os municípios, atendendo os catarinenses. No conjunto da obra faz um bom governo. O governador, particularmente, é um político muito sensível no trato com as pessoas e isso ajuda. A exemplo de outros governadores e prefeitos, recebeu muito dinheiro do governo federal que lhe permite tocar obras justamente no momento em que se lança candidato à reeleição. Tudo isso combinado o coloca como candidato com grandes chances de ser reeleito.

Schettini: Onde entra sua participação política na eleição do ano que vem?

Cris Zanatta: Sou vereadora eleita por São Miguel do Oeste. Sou política por vocação, minha missão é lutar todos os dias para ter como resposta os resultados positivos, o sorriso e o carinho de quem confia no nosso trabalho. Busco sempre escutar, dialogar e levar os melhores resultados. E é isso que mais gosto e que me faz querer seguir transformando vidas com o meu trabalho e comprometimento. Tenho recebido a confiança e o apoio dos nossos cidadãos, quero continuar trabalhando ainda mais pela nossa gente, pela nossa São Miguel do Oeste. Quanto às eleições que vão ocorrer, terei as diretrizes do meu partido que deverão pautar a minha atuação.


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